sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Leituras prévias ao CA (1)

O texto abaixo foi postado pela coordenação do CA para leitura prévia e gerou alguns comentários, que já estão indicados no campo específico. Leia e sinta-se à vontade para comentar.

Aprendendo a pensar
Stephen Kanitz

"Aprendi nas aulas poucas coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos"

A maioria das aulas que tive foi expositiva. Um professor, normalmente mal pago e por isso mal-humorado, falava horas a fio, andando para lá e para cá. Parecia mais preocupado em lembrar a ordem exata de suas idéias do que em observar se estávamos entendendo o assunto ou não.
Ensinavam as capitais do mundo, o nome dos ossos, dos elementos químicos, como calcular o ângulo de um triângulo e muitas outras informações que nunca usei na vida. Nossa obrigação era anotar o que o professor dizia e na prova final tínhamos de repetir o que havia sido dito.
A prova final de uma escola brasileira perguntava recentemente se o país ao norte do Uzbequistão era o Cazaquistão ou o Tadjiquistão. Perguntava também o número de prótons do ferro. E ai de quem não soubesse todos os afluentes do Amazonas. Aprendi poucas coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos.
Curiosamente não ensinamos nossos jovens a pensar. Gastamos horas e horas ensinando como os outros pensam ou como os outros solucionaram os problemas de sua época, mas não ensinamos nossos filhos a resolver os próprios problemas.
Ensinamos como Keynes, Kaldor e Kalecki, economistas já falecidos, acharam soluções para um mundo sem computador nem internet. De tanto ensinar como os outros pensavam, quando aparece um problema novo no Brasil buscamos respostas antigas criadas no exterior. Nossos economistas implantaram no Brasil uma teoria americana de "inflation targeting", como se os americanos fossem os grandes especialistas em inflação, e não nós, com os quarenta anos de experiência que temos. Deu no que está aí.
De tanto estudar o que intelectuais estrangeiros pensam, não aprendemos a pensar. Pior, não acreditamos nos poucos brasileiros que pensam e pesquisam a realidade brasileira; nem os ouvimos. Especialmente se eles ainda estiverem vivos. É sandice acreditar que intelectuais já mortos, que pensaram e resolveram os problemas de sua época, solucionarão problemas de hoje, que nem sequer imaginaram. Raramente ensinamos os nossos filhos a resolver problemas, a não ser algumas questões de matemática, que normalmente devem ser respondidas exatamente da forma e na seqüência que o professor quer.
Matemática, estatística, exposição de idéias e português obviamente são conhecimentos necessários, mas eu classificaria essas matérias como ferramentas para a solução de problemas, ferramentas que ajudam a pensar. Ou seja, elas são um meio, e não o objetivo do ensino. Considerar que o aluno está formado, simplesmente por ele ter sido capaz de repetir os feitos intelectuais das velhas gerações, é fugir da realidade.
Num mundo em que se fala de "mudanças constantes", em que "nada será o mesmo", em que o volume de informações "dobra a cada dezoito meses", fica óbvio que ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil e até contraproducente. No dia em que os alunos se formarem, mais de dois terços do que aprenderam estarão obsoletos. Sempre teremos problemas novos pela frente. Como iremos enfrentá-los depois de formados? Isso ninguém ensina.
Existem dezenas de cursos revolucionários que ensinam a pensar, mas que poucas escolas estão utilizando. São cursos que analisam problemas, incentivam a observação de dados originais e a discussão de alternativas, mas são poucas as escolas ou os professores no Brasil treinados nesse método do estudo de caso. Talvez por isso o Brasil não resolva seus inúmeros problemas. Talvez por isso estejamos acumulando problema após problema sem conseguir achar uma solução.
Na próxima vez em que seu professor começar a andar de um lado para o outro, pense no que você está perdendo. Poderia estar aprendendo a pensar.
Stephen Kanitz é administrador (http://www.kanitz.com.br/)

2 comentários:

  1. ESSE COMENTÁRIO FOI FEITO PELA CH.CHRISTIANE (13º DF), VIA E-MAIL EM 03/02/1997

    É a velha história (essa apesar de velha é atual.rs): Não devemos dar o peixe e sim ensinar a pescar.
    O que adianta hoje em dia eu ensinar um escoteiro como matar uma galinha, tirar a pena, prepará-la? (nem posso ensinar mesmo porque não sei) Preciso ensiná-lo a ir a um supermercado e comprar uma carne boa, num bom preço, etc. Ensinar a preparar sua comida. Ensinar até mesmo a comê-la de maneira educada.
    As coisas mudam.
    Escutei uma vez de um chefe mais experiente que se fosse para o Movimento Escoteiro ser estático não seria chamado de Movimento.
    Então, o que temos que fazer, em minha opinião, é sair da zona de conforto e pensar alternativas para trabalhar a criatividade dos jovens na solução de problemas.

    SAPS
    Chris

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  2. ESSE COMENTÁRIO FOI FEITO PELO CH.XAUD (04º DF), VIA E-MAIL EM 03/02/1997

    Eitá Brasilzão... minha opinião...

    Acho que podemos incentivá-los a aprender as duas coisas... as crianças adoram coisas novas...podemos ensiná-los como comprar uma carne saudável no supermercado, cuidados de armazenamento, embalagens violadas e outras cositas mais e não menos importantes; ensiná-los a reCONHECER uma galinha (heheheheh, acreditem, tem crianças que nunca viram uma viva!!!! e galo tem carne dura!!!), como matar uma galinha (pode pedir auxílio da comadre do mercadinho), como verificar se é franga nova ou galinha velha apalpando o peito (da galinha); como coagular o sangue para fazer um "molho pardo" e como preparar uma galinha, que afinal representa apenas uma ave... AGORA, vamos imaginar um escoteiro da região de Manaus........... se ele não conhecer um peixe, como limpar um peixe (de escamas ou sem escamas) e como preparar um peixe, certamente vai passar dificuldades em qualquer aventura na região amazônica. Então, como cada região tem particularidades, convém aprender de tudo um tiquim, sei que as crianças vão adorar...
    o maior problema que enfrentamos, e é um dos meus pontos fracos, é: como motivá-las...
    Xaudações

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